MANUAL DE DEPRESSÃO



INTRODUÇÃO

Depressão é atualmente a quarta causa de sofrimento e incapacitação em nível mundial. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2020, o Transtorno Depressivo será a SEGUNDA maior doença em incidência no mundo. Hoje, estão à sua frente, em 1º lugar, doenças do coração, em 2º câncer e em 3º acidentes de trânsito.

Os transtornos do humor, do qual fazem parte as formas de depressão, constituem um problema de saúde pública, devido à elevada freqüência. Apesar disso, são dificilmente reconhecidos e, quando diagnosticados, quase sempre são tratados de forma inadequada. Normalmente trazem incapacitação ao paciente e importante prejuízo à sua vida, retirando-o definitivamente do trabalho, colocando-o em risco, destruindo sua convivência social e familiar e quando não, levando-o às drogas ou ao álcool.
Os tratamentos medicamentosos foram sendo descobertos, por acaso, com o uso de substâncias que baixavam a pressão sangüínea. Desde então, as pesquisas têm se refinado bastante na procura de novas substâncias e do entendimento de como funciona o cérebro do sujeito deprimido. Os últimos estudos levam a crer na possibilidade da neurogênesis, a multiplicação de células cerebrais no hipocampo. Estamos aguardando os avanços ansiosamente!!!
Os tratamentos psicoterápicos também têm evoluído desde Freud. O mais interessante é vermos a possibilidade de ensinarmos os pacientes deprimidos, através da psicoterapia, a experimentarem “novas ações”.

1. Conceito
2. Tipos de Depressão
3. Diagnóstico Diferencial/Comorbidades
4. Generalidades sobre Depressão
4.1. Origem da doença – o modelo Bio, psico-social
4.2. Como são as pessoas deprimidas
4.3. Sono, memória, apetite, desempenho profissional e suas conseqüências
5. Neurotransmissores e a Depressão – Como funciona seu cérebro
6. Remédios
6.1. Ansiolíticos
6.2. Antidepressivos
6.3. Moduladores do humor
6.4. Cura? As Recaídas e Recidivas
6.5. A necessidade da medicação ser bem orientada
(Como tomar? Quanto tempo?)
7. Psicoterapia e Visão de Futuro


1. Conceito
A depressão é um estado que afeta o bem estar físico e psíquico do indivíduo. Muitas vezes, o sujeito já pode estar deprimido e achar que está cansado, com preguiça ou desanimado com a vida.
A depressão apresenta 4 fatores principais:
1. humor deprimido: • tristeza ou choro constante • irritabilidade ou mau humor
2. desânimo
3. falta de desejo para aquilo que lhe dava desejo
4. falta de esperança no futuro

Esse quadro pode estar acompanhado de outros sintomas como:
a. insônia
b. apetite modificado
c. idéias de inutilidade/isolamento
d. pensamentos suicidas
e. ansiedade e agitação
f. problemas orgânicos
O estado depressivo é cíclico, pode iniciar na adolescência. Ele tem fases e pode desaparecer espontaneamente. Mas cada vez que volta, se não for tratado, virá com mais intensidade ou até por períodos mais longos.
Não há necessidade de eventos externos estressantes para o aparecimento das crises, mas estes podem ser elementos disparadores de novas crises.
O estado depressivo é uma vivência profunda, onde a existência do sujeito torna-se, muitas vezes, vazia e sem qualquer perspectiva. Percebe-se a vida, de uma forma mais negativa, diferente do habitual. Os pensamentos negativos invadem a mente, numa lente obscura que lhe tira todo o colorido.
O sujeito, quando deprimido, baixa auto-estima, dificuldade em lidar com as frustrações, pouca tolerância aos estresses e imaturidade emocional. Situações vitais como luto, mudança de emprego ou cidade, doenças crônicas, relacionamentos conflitantes, dificuldades financeiras e outros podem ajudar a piorar o quadro depressivo.


2. Tipos de depressão
A depressão pode ser adquirida ao longo da vida por desgaste e ansiedade. Pessoas que viveram apresentando ansiedade crônica por longos períodos adquirem a doença depressiva.
Há também a depressão do Transtorno Bipolar, doença hereditária. Estas pessoas já apresentam sua primeira crise depressiva bem cedo, e às vezes, em proporções bem intensas.

TIPOS
1. Depressão Reativa
Pode ocorrer em qualquer idade. Comum nas pessoas acima dos 40 anos, devido ao desgaste da vida diária. Geralmente já eram pessoas que apresentavam um quadro de ansiedade como TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizado).

2. Distmia
É considerado um quadro de depressão mais suave, onde a pessoa apresenta um mau humor constante, irritabilidade e este estado é permanente.

3- Depressão Maior –
É o quadro depressivo onde a pessoa apresenta os sintomas de uma maneira tão forte que a incapacita de trabalhar, sair de casa, memorizar, ter vontades, ter esperança no futuro e pensar positivo.
É um estado grave e incapacitador.
A pessoa apresenta como sinais básicos:
Humor triste
Desânimo
Falta de desejos
Falta de esperança no futuro
Idéias de inutilidade e até suicídio
Mudanças no apetite e no sono.
Pode ser parte do quadro do Transtorno Bipolar; ou pode vir apenas como um quadro depressivo.
A doença é recorrente; vem em ciclos ao longo da vida.

4. Transtorno Bipolar do Humor
O transtorno bipolar do humor (TBH), também conhecido como Psicose Maníaco-depressiva, é uma doença psiquiátrica caracterizada por oscilações ou mudanças cíclicas de humor e comportamento que variam em intensidade (leve, moderada ou grave) e duração (episódios curtos, longos ou crônicos). As mudanças de humor vão desde as oscilações normais, como nos estados de alegria e tristeza, até mudanças patológicas acentuadas e diferentes do normal, como episódios de mania, hipomania, depressão e mistos. É uma doença de grande impacto na vida do paciente, de sua família e da sociedade, causando prejuízos freqüentemente irreparáveis na saúde, na reputação e nas finanças do indivíduo, além do sofrimento psicológico.


Características do TBH

Sintomas de mania, depressão e estado misto

O Transtorno Bipolar divide-se em tipos:
Tipo I - A pessoa tem um quadro de mania acentuado por um período longo de tempo de 1 a 6 meses. Depois, ela terá um período longo de depressão grave que também vai durar semanas ou até meses. Pode ter apenas um único episódio de mania e vários de depressão. Ou pode ter vários episódios de mania ao longo da vida.

Tipo II- A pessoa terá um quadro de hipomania por um período de semanas a meses que pode passar desapercebido como alegria, entusiasmo. E depois terá períodos de depressão.

Ciclotimia – A pessoa alterna entre estados de hipomania e leve depressão dentro de uma mesma semana.

Ciclador Rápido – A pessoa tem de 3 a 4 episódios de depressão e/ou mania em um ano.

Misto – Tem ao mesmo tempo sintomas da mania e da depressão

3. Diagnóstico Diferencial/Comorbidades
É importante verificar se não existe uma doença física por debaixo dos sintomas de desânimo e mau humor.
Doenças como feocromocitoma, hipotiroidismo, anemia, câncer e outras podem causar um quadro depressivo.
É aconselhável passar pelo clínico e pelos exames de rotina antes de ser diagnosticado o quadro depressivo.
As comorbidades são outras doenças psíquicas que podem vir conjuntamente com o quadro de depressão ou Transtorno Bipolar. São eles:
• TAG – Transtorno de Ansiedade Generalizado
• Transtorno do Pânico
• Fobias Simples ou Social
• TOC – Transtorno obsessivo compulsivo
• Alcoolismo, abuso de drogas.
• Anorexia e/ou bulimia
• Compulsão a compras, jogo.
De todos estes é bom explicar o que é TOC. O Transtorno obsessivo compulsivo é uma desordem mental em que o sujeito é invadido por pensamentos negativos insistentes que podem ser de medo de doenças, medo de alguma desgraça acontecer com a família. Normalmente, para o alívio do pensamento negativo intrusivo é necessário fazer algum tipo de comportamento repetitivo como um ritual. Este pode ser de descontaminação ou limpeza (banhos, lavar mãos, etc.) ou contagem (rezar ave-marias, contar número, placas, etc.), ou verificação de portas e janelas.
Algumas vezes, estes pacientes apresentam medo de doenças específicas como AIDS e câncer e todo tempo estão se checando.
É bom alertar que os remédios antidepressivos como clorimipramina (anafranil); sertralina (zoloft, tolrest, assert, serenata); paroxetina (pondera, aropax, paxil, etc.) são excelentes para alívio destes sintomas. Mas devem ser usados em altas doses, 3 vezes maior do que a dose como antidepressivos.
A ansiedade é um grande fator de risco para gerar um futuro quadro depressivo. Crianças ansiosas podem tornar-se futuros deprimidos.
Pensa-se na hipótese do desgaste maior de neurotransmissores ou na nova hipótese de atrofia do hipocampo.
“Dependendo do tipo de transtorno de ansiedade, pode-se aumentar de 2 a 4 vezes o risco para um quadro secundário de depressão. O número crescente de quadros de ansiedade, a persistência do comportamento de evitação da ansiedade, e o grau de debilidade psicossocial são fatores fortemente associados ao surgimento da depressão.”
(Michael Yapko)


4. Generalidades sobre Depressão
4.1. Origem da Doença Depressiva – O modelo Biopsicossocial
Depois de muitos estudos, hoje o modelo mais aceito para a causa do Transtorno Depressivo é a conjunção de fatores como:
Genético – há uma tendência familiar para o desenvolvimento de quadros de ansiedade e de depressão. Não se descobriu ainda um marcador genético para a depressão.
Já no caso do TB (Transtorno Bipolar), sabe-se que a causa é genética, com a probabilidade de, quando um dos genitores tem o T.B., há 25% de chance para o filho ser portador da doença. Quando ambos os pais têm a doença, a chance aumenta para 75%.
A convivência social com pais deprimidos torna a chance grande de desenvolver a depressão.
Questões afetivas graves, privações e abusos também ajudam no aparecimento da doença.
Assim podemos dizer que:
“- A depressão possui um componente biológico (genes, bioquímica, doenças e drogas)
- A depressão possui um componente psicológico (distorções cognitivas, histórico)
- A depressão existe em um contexto social (diferenças sociais, sofrimento, influências culturais).”
(Michael Yapko)

Uma outra importante informação são os novos estudos sobre a neurogênesis. Os cientistas estão observando que o hipocampo (parte do sistema límbico cerebral) é menor nos deprimidos. O uso constante dos antidepressivos, além de aumentar os níveis de serotonina podem estar associados ao crescimento de novos neurônios desta região, pois foi detectado aumento do tamanho do hipocampo. Pesquisas iniciadas nos anos 90 estão em avanço na procura de novas drogas para neurogênesis. Em animais de laboratório, que receberam antidepressivos, a produção de neurônios aumentou.
Por enquanto, os psiquiatras trabalham numa concepção biológica, com a hipótese de recuperação do nível de serotonina, e do equilibrio dos níveis de dopamina. (Veja remédios/neurotransmissores).
Podemos tirar como conclusão que a depressão ocorre por um conjunto de fatores como: o biológico (genes), o ambiente desfavorável, o aprendizado familiar; mas nunca um único fator preponderante.
É tão impreciso afirmar que depressão (não doença bipolar) é hereditária, quanto afirmar que ela é.
As influências genéticas atuam sobre características cognitivas, psicológicas e da personalidade, mas não sobre uma entidade global chamada depressão. Existe uma correlação gene-ambiente, cujas variações, na expressão genética, estão associadas a várias circunstâncias ambientais.

4.2. Como são as pessoas deprimidas
“Mas de tudo isto, o mais surpreendente, é que já se viu que nenhuma quantidade de medicamento pode mudar:
- o estilo de lidar com situações
- o estilo explanatório
- o estilo de relacionamento
- o estilo cognitivo
- as habilidades para soluções de problemas
- a rede de relacionamentos e
- o histórico do sujeito deprimido.”
(Michael Yapko)

De acordo com o psicólogo americano, Michael Yapko, que vem há 20 anos estudando depressão, os pacientes deprimidos têm uma maneira muito peculiar de lidar com os problemas da vida. São globalizadores, pouco específicos. Uma parte funciona como um todo. Caso algo aconteça de ruim, como ir mal numa prova, o sujeito deprimido globaliza dizendo “... minha vida é assim! Sou um azarado mesmo! Urubu fez... na minha cabeça! Nada de bom acontece comigo!...”
O que acontece com a pessoa não deprimida? Por que ela não deprime? Ela compartimentaliza problemas. Por exemplo: ir mal numa prova pode ser porque não estudou ou por estar muito difícil. Mas não perde o dia, nem a semana, ou o humor com isso.
Por que algumas pessoas, mesmo passando por situações difíceis, não deprimem? Elas têm uma visão otimista. Veêm que na vida há problemas, mas não se paralisam, vão à luta e CONFRONTAM! Os deprimidos recuam, se escondem, acham que o pior vai sempre acontecer e desistem.
O comportamento evitativo é freqüente no deprimido.
As pessoas deprimidas geralmente são:
- desanimadas
- tristes, ou chorosas
- podem apresentar mau humor
- têm pensamentos negativos recorrentes
- apresentam falta de desejos
- não têm esperança no futuro
- têm sentimento de inutilidade
- podem apresentar idéias suicidas
- geralmente têm insônia terminal (fim do período de sono, depois das 3 horas da manhã)
- geralmente têm distúrbio alimentar
- podem usar o álcool como calmante
Algumas dessas pessoas estão evoluindo de um quadro de ansiedade. Sofreram ansiedade por anos seguidos e, por desgaste, se esgotaram! Não reagem! Precisam parar! O corpo literalmente pára e pede: descanse, durma, alimente-se bem; evite problemas até se recuperar.

4.3. Sono, Memória, Apetite, Desempenho Profissional e suas Conseqüências.
Sabe-se que a doença depressiva incapacita as pessoas, quando não bem tratada, pois afeta áreas vitais como sono, alimentação e memória.
O sono pode em alguns poucos casos estar aumentado. Na maioria das vezes, o paciente estará sofrendo de insônia. A insônia inicial, dificuldade de pegar no sono, é mais indicativa de transtorno de ansiedade.
Já a insônia tardia, acordar de madrugada e perder o sono, é comum na depressão. Pode ocorrer o sono intermitente, entrecortado como uma passagem dos quadros ansiosos para o depressivo.
Mas o certo é que se a pessoa não dorme bem, não vai trabalhar bem! Além disso, é durante a noite que se fabrica serotonina. Durante o sono e no escuro! Assim, o quadro tende a piorar, pois baixa de serotonina com falta de sono, só agrava a situação.
Os transtornos alimentares podem ser variados como inapetência, ou compulsão alimentar principalmente por alimentos doces, carboidratos e chocolates. Este último tem muito triptofano. E o horário da compulsão? À noite, é claro! Parece que o organismo procura... precursores da serotonina como o triptofano para produzi-la.
Sobre a capacitação do trabalho, o sujeito vai ficando totalmente desanimado, como um sujeito no final do dia após uma longa e dura jornada de trabalho. Ele já não possui nem dopamina (responsável pela memória, inteligência e atividade física) e nem serotonina (responsável pela alegria, relaxamento e o pensamento positivo). Como pode um sujeito neste estado trabalhar?
Sabemos que esta doença é incapacitante nos períodos de crise. Se bem cuidada, acertando as medicações e fazendo uma boa terapia de apoio, a situação melhora!
A memória é prejudicada. O hipocampo é a parte do cérebro responsável pelas memórias emocionais. Já vimos que há uma certa atrofia do hipocampo. De uma outra visão, sabemos que se os neurotransmissores estão em baixa, a dopamina (responsável pela memória, inteligência) não conseguirá realizar com sucesso suas neurotransmissões e a memória ficará falha. Muitos pacientes se queixam de falhas na memória, pequenos esquecimentos.

5. Neurotransmissores e a Depressão – Como funciona seu cérebro
O fluxo de informação para o cérebro ocorre através de impulsos nervosos ao longo de milhares de neurônios. Para que a transmissão desses impulsos, de um neurônio para o seguinte, ocorra, acontecem inúmeros fenômenos químicos, no espaço entre esses neurônios, denominado “fenda sináptica”. Nesta fenda, diversas substâncias (neurotransmissores) são secretadas de um neurônio para o neurônio seguinte, mantendo a transmissão da informação. Existe, portanto, um fluxo de ida e de volta do neurotransmissor entre os neurônios.
Existem 3 neurotransmissores principais para que se entenda melhor o uso dos medicamentos. São eles:
- dopamina - “fada azul”
- serotonina – “fadinha cor de rosa”
- noradrenalina – “fada amarela”
Costumo chamá-las de “fadas minas”. São as cuidadoras do reino cerebral, do povo nervoso, os neurônios.
Estes neurotransmissores têm suas funções específicas. Quando saem de um neurônio para o outro vão levar alguma informação nova, alguma mensagem. Assim temos:
A dopamina é responsável pela atividade física (o ânimo), a inteligência e memória. Fica linda como uma fada azul.
A serotonina é responsável pela alegria, pelo pensamento positivo e pelo estado de tranqüilidade. Por isso a chamo de fada cor de rosa!
A noradrenalina é responsável pelo aviso de luta ou fuga. Que algo não vai bem! Por isso a denomino de fada amarela, sinal de perigo!
Quando há uma baixa de dopamina vem o desânimo, a falta de desejo, dificuldade para estudar, ler, concentrar, memorizar.
Quando há uma baixa de serotonina, aparece a tristeza, o pensamento negativo e a ansiedade ou inquietude.
Algumas vezes, a noradrenalina sai substituindo a “prima serotonina” como mecanismo de feedback e aí temos um quadro ansioso juntamente com a depressão.

6. Remédios Psiquiátricos
6.1. Ansiolíticos
São aqueles que fecham a entrada dos neurotransmissores. Assim, caso venha muita noradrenalina para avisar de falsos perigos, o ansiolítico bloqueia o caminho! Devemos usá-los com moderação.
Eles não resolvem o problema. É como remédio para febre. Enquanto faz o uso, bloqueia o sintoma. Somente no início dos tratamentos até tatear a dose do antidepressivo. Ou em casos esporádicos para dormir um sono tranqüilo frente a um momento estressante.
Causam dependência!
Tipos: Clonazepan (rivotril)
Alprazolan (frontal, apraz)
Bromazepan (lexotan),
etc.
6.2. Antidepressivos
São os remédios que desbloqueiam a serotonina, às vezes também a noradrenalina e a dopamina de modo que elas possam ser recaptadas e degradadas pelo neurônio que as liberou. Suspeita-se como hipótese para depressão que existe uma baixa destes neurotransmissores e, portanto, é necessário aumentar a quantidade dos mesmos na fenda sináptica (entre um e o outro neurônio). Assim, inventaram estes medicamentos que precisam ser usados diariamente e por longa data. E, em casos de depressão com recidivas, deve-se tomar indefinidamente até a invenção de drogas melhores.
Podemos comparar a depressão com a diabetes, em que o sujeito não tem insulina suficiente e é abastecido pelas injeções. Se não tomar morre!
O sujeito deprimido deve tomar sem interrupção o antidepressivo. Se não tomar, ou interromper o tratamento poderá voltar a ter recaídas em seu quadro depressivo.
A medicação não é 100% efetiva, mas tem um bom índice de melhora. Pode trazer sérios efeitos colaterais, dependendo do medicamento. Mas a medicina vai evoluindo e novos medicamentos vão surgindo com menos efeitos nocivos.
O que é importante salientar é que os efeitos colaterais são menores que a incapacitação do paciente.
Tipos de drogas:
1. Tricíclicos – anafranil, tofranil, pamelor, tryptanol
2. ISRS – fluoxetina, sertralina, paroxetina, citalopran, escitalopran
3. Nassa – Minalciprano
4. ISRSNa – Velanfaxina
Há muitos outros, mas estes são os mais comuns.
6.3. Moduladores do Humor
São os remédios de primeira escolha quando se trata de Transtorno Bipolar (TB). Os antidepressivos podem fazer uma pessoa com T.B. sair de um quadro depressivo e entrar em um quadro de mania.
A droga número 1 é o lítio, pela sua eficácia. Mas infelizmente, causa uma série de distúrbios como efeitos colaterais.
Por isso, usamos os anticonvulsivantes, remédios para epilepsia como uma segunda opção com excelentes resultados.
Em geral, em quadros com mania, pode-se fazer a escolha pelo valproato de sódio (Depakote, Torval) ou pela oxacarbamazepina (Trileptal) e verificar se houve melhora.
Nos casos de depressão severa têm-se usado lamotrigina (Lamictal, Lamitor, Neural) com excelentes resultados! O bom desta medicação é que ela não tem efeitos colaterais tão ruins.

6.4. Cura? As Recaídas e Recidivas
A pergunta mais comum é: depressão tem cura?
Esta é uma resposta intrigante...
Do ponto de vista psiquiátrico, não há cura. Há tratamento. Será necessário tomar medicação corretamente, ao longo da vida. A dose adequada, o remédio correto, o horário certo, a abstinência das bebidas alcoólicas e drogas. Podemos fazer uma analogia à diabete: se falta insulina, é necessita a reposição. Mesmo quem não sofre o Transtorno Bipolar, tem apenas uma depressão por desgaste (Depressão Reativa), deve tomar adequadamente a medicação para não ter Recidivas do quadro. Sabemos que a doença é cíclica e, portanto, desaparecerá por algum tempo. Se a pessoa melhora e pára de tomar os medicamentos, terá grande chance de ter recidivas do quadro depressivo e com um sério agravante, a crise será mais intensa e de difícil melhora com os medicamentos. Portanto, é necessário mantê-los como prevenção de novos episódios.
Durante o tratamento medicamentoso, sabemos que o paciente pode apresentar uma melhora acentuada num período que varia de 15 dias até 6 semanas. Se a crise for intensa, este período para melhora dos sintomas é um pouco mais demorado.
O sujeito pode ter recaída de sintomas nesta fase inicial do tratamento, num período de até 6 meses. Após este período, ele melhora e poderá ter recidivas do quadro ao longo da vida. Caso mantenha a medicação de manutenção, sua recidiva será de baixa intensidade.
O outro ponto de vista é o aspecto psicoterápico. Tem cura a depressão? Veremos que o paciente que toma remédios e faz terapia tem mais chances de ficar livre dos sintomas e bem mais rapidamente!
Os remédios não mudam as atitudes dos pacientes deprimidos. Melhoram os níveis dos neurotransmissores, mas não mudam o comportamento do mesmo.
A vantagem da psicoterapia é ensinar novas maneiras de lidar com a vida, numa visão mais objetiva e específica. Desta forma, o sujeito deprimido aprende a viver sem evitar a vida!
Podemos, então, arriscar em dizer que há mais chances de viver bem a vida o deprimido que tomar a medicação e fizer uma boa psicoterapia.
As chaves são de 80% de melhora!

6.5. A Necessidade da Medicação ser bem Orientada
O primeiro ponto é um bom diagnóstico: se o paciente tem Transtorno Bipolar ou apenas Depressão. Muitas vezes, ele está medicado para depressão e tem T.B.
O segundo ponto é a dose ideal para cada tipo de paciente. Além de verificar a melhor droga para o tipo da depressão, com menores efeitos colaterais para aquele tipo de paciente, é importante verificar se a dose está adequada. Subdoses não vão adiantar!
Um bom psiquiatra poderá ajudar...
O terceiro ponto é não interromper o uso do medicamento. A doença depressiva e o Transtorno Bipolar requerem continuidade no tratamento: toma-lo no horário certo e evitar o uso de bebidas alcoólicas.
Se o paciente tem a paciência de passar pelo período de adaptação à medicação deve então permanecer tomando os medicamentos e o resultado virá! Os efeitos demoram a aparecer e seu médico poderá lhe fornecer este tipo de informação.

7. Psicoterapia - Uma Visão de Futuro
Normalmente vemos o seguinte questionamento: Qual o melhor tratamento? Drogas ou psicoterapia?
As pesquisas científicas, os inúmeros pacientes testados, tudo mostra que a melhor opção é associação das drogas mais adequadas com uma boa psicoterapia.
Sobre psicoterapia, o raciocínio melhor para depressão é colocar o paciente deprimido na AÇÃO!
Mas como isso é possível se o paciente deprimido está completamente desanimado e seu pensamento negativo globalizado tornou-o paralisado, numa atitude de evitação?
Normalmente, uma pessoa quando passa por algum obstáculo, frustração ou trauma tem um período de negativismo, mas logo reage. Toma iniciativa e pensa de uma forma específica. As pessoas têm habilidades específicas para superar dificuldades. Afinal de contas, fazem parte da vida episódios difíceis!
Por isso, a psicoterapia para deprimidos deve ajudar o sujeito a criar habilidades específicas para sair de um quadro depressivo. Só deixar o sujeito falar de seus sentimentos não é o mais indicado. A psicoterapia vai ajudá-los a TOMAR ATITUDES, A MUDAR A VIDA AOS POUCOS, para sair do quadro paralisante.
Outro detalhe importante é que:
Os remédios não ensinam habilidades novas aos pacientes!!!
A psicoterapia é um ato educativo. O terapeuta vai ajudar educando o paciente a vencer obstáculos, superar frustrações ou traumas. É na psicoterapia que o paciente deprimido vai aprender novas habilidades para ver o futuro de uma maneira bem diferente.
Sabemos que o meio social influencia o humor do ser humano. Devemos trabalhar com o deprimido dando um novo enfoque que o retire da paralisia frente às dificuldades e o motive a tomar uma atitude, por menor que esta possa parecer!
Outro ponto importante é que o psicoterapeuta pode ajudar o paciente a entender a necessidade de tomar corretamente a medicação. Ele pode educá-lo para isto. Ensiná-lo um pouco sobre o funcionamento cerebral e ajudá-lo a entender que ele pode favorecer o tratamento com a medicação adequada, e dessa forma seu cérebro estará a disposição para tomar novas atitudes e pensar positivo.Quando o paciente faz uso do antidepressivo, por uma das hipóteses ainda sustentada pela psiquiatria, ele terá um aumento no nível da serotonina. Com isto, terá o pensamento mais positivo, uma diminuição na tristeza e um relaxamento mental maior.
Se ele estiver fazendo uso de moduladores de humor, quando houver baixa de dopamina, o remédio vai abrindo os canais para entrarem os neurotransmissores, melhorando consideravelmente o ânimo do paciente, pois os moduladores controlam o excesso e falta da dopamina na entrada da célula. Dessa maneira, também ajudam a melhora do ânimo e inteligência.
Na terapia, é bom desenvolver um bom “rapport”. A confiança do cliente de que o seu terapeuta realmente vai apoiá-lo é importante. Alguns profissionais, inclusive, gravam as sessões para que o cliente possa ouvi-las, depois de terminada a sessão, quantas vezes desejar. Isso reafirma o conteúdo conversado. Como são aprendizagens que precisam ser adquiridas, quanto mais repetidas, mais possibilidades de memorizar. Vale relembrar que os pacientes deprimidos costumam esquecer tudo que foi dito!
“O preditor mais forte de depressão é a sua experiência de vida. Não há gens de depressão. Há apenas gens que fazem você mais vulnerável à depressão...”
Kenneth (geneticista)
Assim, é possível mudar um pouco a vulnerabilidade para a depressão, mudando o estilo de vida e, conseqüentemente, o pensamento globalizado sobre tudo ser parte da sua “droga” de vida!
O deprimido vê tudo como um grande risco. Na terapia, podemos ensiná-los que eles têm habilidades para lidar com os riscos, mesmo que eles não queiram.
Alguns preferem evitar os medos da vida porque ficam ansiosos. Mas a ansiedade até um certo nível é um bom preço de um planejamento adequado de futuro. Se o sujeito se prepara adequadamente para a vida, fica mais preparado para enfrentar as catástrofes da vida diária, desde uma pequena frustração até um terremoto. Por exemplo, na Califórnia, as construções são feitas para suportar tremores de terra; enquanto na Ásia não há planejamento para isso. A conseqüência lógica é uma catástrofe maior na Ásia.
Podemos usar esta analogia com os nossos pacientes deprimidos, ensinando-os a enfrentar pouco a pouco situações antes evitadas.
Você também pode ajudar preventivamente seus pacientes que têm um padrão de ansiedade para evitar que isto se torne uma futura depressão.
Você pode diagnosticar um quadro de ansiedade primária quando a pessoa apresentar:
- humor ansioso
- insônia inicial
- mudanças psicomotoras (movimentos contínuos)
- Ausência de respostas aos exercícios
Quando a depressão é primária, a pessoa vai apresentar:
- humor deprimido
- insônia terminal
- agitação psicomotora e retardamento
- respostas positivas aos exercícios
Sabemos que os quadros ansiosos podem evoluir para quadros depressivos. Por isso, podemos educar os pacientes ansiosos para uma higiene de vida, aprendendo a enfrentar os problemas da vida diária de uma forma menos ansiosa e não paralisante.

2 comentários:

GEISA PATRÍCIA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
GEISA PATRÍCIA disse...

ADOREI SEU MANUAL DE DEPRESSÃO.PASSO POR ESSE PROBLEMA À ALGUM TEMPO E ESTOU ATRÁS DA CURA. MAS PELO QUE LI ELA NÃO TEM UMA CURA DEFINITIVA.
fAÇO TRATAMENTO COM UM PSIQUIATRA E COM A PSICOLOGA LIDIANE SOMMER.
ABRAÇOS E PARABÉNS PELO SEU DIA AMANHÃ.