DEPRESSÃO (GERAL)


1. Visão geral
A depressão é diagnosticada quando encontramos os seguintes sintomas:

· estado de desânimo e esgotamento;
· desesperançosas;
· baixa de auto-estima;
· perdem o interesse pelas coisas que dão prazer;
· preferem ficar isoladas;
· têm distúrbios do sono; podem ter insônia ou dormir demasia­damente;
· perda ou aumento de peso;
· sentimentos de culpa ou de inutilidade;
· diminuição na habilidade pensar e/ou concentrar;
· recorrentes pensamentos de morte.

Existem várias categorias de depressão. Temos a Depressão Reativa, onde a pessoa pode ter o quadro descrito acima com algumas destas características ou todas. Como o próprio nome já diz é uma DE-PRESSÃO REATIVA. Uma reação de esgotamento às pressões da vida. Costuma aparecer depois de períodos de dificuldades, as mais variadas possíveis, como um sinalizador saudável – PARE! RECUPERE-SE! Este tipo de depressão costuma ocorrer em pessoas ativas que se sobrecarregam. Pode aparecer em qualquer período da vida. É mais comum na idade adulta madura. Onde as pessoas costumam esgotar-se com mais facilidade. Mas encontramos a depressão reativa em crianças que ficam sobrecarregadas em diversas atividades, exigências etc. Veremos mais à frente a psicodinâmica das depressões.
Existem também as depressões que são classificadas como DESORDENS DE HUMOR. Depressões mais severas, Transtorno Bipolar e a distmia. Esta categoria de depressão é mais séria a nível de tratamento e cura. Estamos falando de transtornos psicóticos e na maioria das vezes estão associados a outras patologias como o abuso de drogas por exemplo.
Em termos gerais, teremos os mesmos cuidados no tratamento psicológico para os distintos diagnósticos. Mudando apenas a medicação quando se tratar de depressões mais severas. E também ter um controle mais rigoroso, atendimentos mais freqüentes, e talvez internação em situações mais graves.
Quando recebemos pacientes com queixas depressivas, devemos mandar a uma avaliação médica. Existem patologias que se mesclam com a depressão. Como exemplo, a desnutrição que ocorre em pessoas que fazem regimes severos. Sabemos que os neurotransmissores responsáveis por nossos pensamentos e ações são proteínas (aminas), portanto derivados das proteínas que alimentamos. Se alimentamos mal, podemos desenvolver quadros de depressão reativa com queixa de desânimo, esgotamento etc. Nestes diagnósticos diferenciais devemos ficar atentos também a carências de vitaminas, anemias (muito comum em mulheres com quadro de menstruação abundante), disfunção tireoidiana, entre outras doenças.
Mas numa visão geral, devemos observar:
· esgotamento;
· pressões que implicam em de-pressão;
· frustrações constantes que implicam em sentimentos não digeridos como tristeza e raiva. Emoções retidas adoecem o corpo e alma;
· a constância e o hábito dos pensamentos negativos retro­alimentadores da depressão;
· sentimento de ser pouco amado.

2. Como é a pessoa deprimida

Nas depressões reativas:

Costumamos receber em nossos consultórios, com muita freqüência, pacientes com depressão reativa. São pessoas que contam uma história de vida ativa, de dinamismo, muitas frustrações, muitas exigências (internas e externas), e conseqüentemente estão se queixando de esgotamento.
Estes pacientes vêm por conta própria à terapia pedindo ajuda. Mas se sentem desanimados e desesperançosos como nunca foram.
Vemos freqüentemente, que sofrem de Desordem de Ansiedade e estão vivendo ou viveram um período de intensa frustração.
Têm as mesmas características da pessoa que sofre de pânico e de fobias. Geralmente, querem dar conta de tudo e se sobrecarregam. Como o nosso corpo não mente, vem sinalizar que é preciso PARAR.
Ter que ser o primeiro, ser bom em tudo que faz, gera um intenso desgaste. É impossível ser o melhor em tudo. As emoções estão por trás. A pessoa sente tristeza, raiva, frustração e impotência, e não consegue lidar com tudo isto, quando se exige demais. Emoções não digeridas, aparecem de alguma maneira e vêm através do corpo dizer: PARE! DESCANSE! VOCÊ NÃO DÁ CONTA DE TUDO!
Os sintomas são incorruptíveis. São tentativas de caminhos para a solução; ou melhor dizendo, para a conexão com o seu verdadeiro EU, com o que você verdadeiramente deseja ser.

Nas depressões de humor:
Vemos pessoas em situações mais críticas. Não vêm à terapia por vontade própria na maioria dos casos. Ou são aqueles pacientes que trocam de terapeutas constantemente com fracassos terapêuticos repetidos (em remédios e psicoterapia).
Costumam gerar desânimo natural como contra-transferência. A questão é mais profunda. Não há relação terapêutica que se estabeleça rapidamente. Nas relações objetais foram marcados profundamente pelo abandono; por isso não investem para não perder mais.
Estes quadros são mais graves e requerem muito mais de nossa ajuda terapêutica.
Aconselho dar uma olhada na classificação do DSM-IV sobre desordens de Humor.

3. Bioquímica
Os sintomas da depressão variam de indivíduo para indivíduo. Inclusive a depressão pode ser vivenciada como um sentimento de torpor ou de vazio, ou talvez sem nenhum sentimento, positivo ou negativo.
Independente dos fatores desencadeantes, o mecanismo subjacente da depressão é uma mudança na química cerebral e numa específica área do cérebro – o sistema límbico – responsável pelas emoções. Que de acordo com esta mudança bioquímica, aumenta sua irrigação cerebral na região do sistema límbico causando as depressões.
O sistema nervoso cerebral funciona em termos de estímulo ® resposta. Para uma mensagem passar de um neurônio a outro, faz-se através de um neurotransmissor que comunica o estímulo elétrico na fenda pós-sináptica. O neurônio pré-sináptico – que está mandando a mensagem – produz o neurotransmissor, que se direciona para o neurônio pós-sináptico no receptor final. A molécula de neurotransmissor tem a forma de uma chave que só caberá numa determinada fechadura, chamada local receptor, no neurônio pós-sináptico. Quando a chave escorrega para dentro da fechadura, a mensagem é recebida, e o receptor é ativado ou inibido, dependendo de sua função.
Uma vez completado o trabalho, a molécula neurotransmissora se solta novamente na sinapse. Pode retornar ao neurônio precursor, onde pode ser usada de novo, ou pode sobrar e ser desativada por uma enzima chamada oxidase monoamina (MAO).
O humor é afetado pelas mudanças nos níveis relativos a vários neurotransmissores. A questão é, o que causa estas variações nos níveis de neurotransmissores e pode alterar o equilíbrio deles? Conjecturamos que são os estímulos – o que sentimos, o que sofremos, as emoções. Para muitos, se mudar a emoção, muda-se a química cerebral!
Um dos mais importantes neurotransmissores é a SEROTONINA, ela influencia muitas funções fisiológicas como pressão arterial, digestão, dor, temperatura do corpo, bem como o humor.
Altos níveis de serotonina estão associados à estabilidade emocional.
Baixos níveis dela estão associados:
· depressão
· TPM
· ansiedade
· pânico
· sensibilidade aumentada à dor (por exemplo, fibromialgia)
· abuso de drogas e álcool
· acentuado desejo carbohidratos
· distúrbios do sono
entre outros.

Com certeza existem outros neurotransmissores importantes no equilíbrio do humor. Entre eles a dopamina. Seu desequilíbrio é responsável pelo transtorno bipolar, depressão severa e a mania.
Se uma pessoa tem pensamentos ruminativos, pensa demais, gasta demasiadamente serotonina e com isto fica esgotada. Sem a amina da ação e da emoção e conseqüentemente deprime.
Os antidepressivos trabalham na recaptação da serotonina na fenda pós-sináptica. Mas sabemos que a resolução do problema não se encontra na fenda pós-sináptica e sim no estímulo, anterior à comunicação e resposta.
Nosso trabalho psicoterápico é mudar os estímulos. Os estímulos mais comuns nestas pessoas são:

· exigência, ser o primeiro/o melhor;
· dar conta de muitas obrigações;
· “tapar” raiva e tristeza, etc.

Precisamos ajudar estas pessoas a mudarem os seus estímulos. Mude as emoções ® muda-se a bioquímica cerebral!

4. Psicodinâmica

Uma visão holística
Sabemos que o homem é a somatória do corpo e da mente. Que sofremos marcas (traumas emocionais) que ficam registrados em nosso corpo e influenciam nossa mente. Precisamos fazer a reconexão saúde e descobrir as marcas que prendem nossas energias de vida.
Todos nós percebemos isto quando ficamos tensos, ou deprimidos, que logo em seguida temos sintomas físicos como dores de cabeça, dores musculares ou problemas digestivos.
Então, o que observamos é que existe uma interação do corpo e da mente. E o corpo traz as respostas mais verdadeiras do nosso self.

Uma visão genética
Há uma visão genética sobre as depressões. Existem estudos sobre a correlação onde há chances de até 25% de um parente de primeiro grau desenvolver depressão e apenas 7% se não há familiares deprimidos (retirado do livro Erva de São João – Hyla Cass, pag. 49).
Mas sempre lembrando que uma predisposição genética para doenças não significa que a doença é inevitável. Contudo, podemos influir na forma que esta pessoa pode viver a vida e suas emoções e portanto elevando o nível de serotonina que ela produzirá.

Uma visão psicológica
Sabemos através de autores como Renne Sptiz, Melaine Klein, Winnicot, como a primeira infância e as relações de objeto são importantes na organização emocional.
A depressão se baseia na falta de uma boa relação de objeto.
Toda patologia é uma questão de volume, aqui também veremos que o “volume” do afeto estabelecido nas relações de objeto são fatores importantes no desencadeamento de uma psicose depressiva ou numa reação depressiva.
Isto nos ajuda em termos do trabalho terapêutico. Dar amor, ensinar o amor, cuidar. Auxiliar a pessoa que para ser amada não precisa ser a número 1, ser perfeita. Não precisa TER QUE SER o que ela imagina que o outro deseja para ser aceita. Ela deve aprender a ser, como nos ensina a Dra. Teresa Robles.
Vemos dentro desta perspectiva, que a pessoa se fere (nas suas relações de objeto) e pelo mecanismo do recalcamento vem repetindo o mesmo desfecho em suas novas relações de objeto pela vida. Aumentando suas marcas, repetindo as feridas, se retraumatizando.
Os sentimentos de raiva e tristeza não podem aparecer. Necessita ser boazinha para ser aceita. Onde vão parar suas verdadeiras emoções? Ficam represadas, segurando energia, limitando a vida das mesmas.
Ficam presas em crenças limitantes sobre si mesmos e surge a FRUSTRAÇÃO. Uma seqüência infinita de frustrações gera o esgotamento, a desesperança, o vazio. A necessidade (até saudável) de matar a vida que mata você!
Vemos, por exemplo, que na distmia uma depressão expressa pela irritabilidade e a raiva, que estas pessoas extravasam sua raiva. Mas omitem a tristeza, ou melhor, não trabalham com a tristeza escondida e também se mantêm presas em seus traumas, retraumatizando as mesmas feridas.
Toda pessoa deprimida tem feridas abertas. Tem emoções não digeridas guardadas. Tem raivas e tristezas que precisamos ajudá-las a digerir.
Estas emoções começam a ser ativadas na primeira infância. Por isso, precisamos cuidar do pequeno eu de cada sujeito deprimido, ensiná-lo a perdoar seus pais que, em princípio, são os primeiros a feri-los. Todos os pais fazem o que podem e dão conta por seus filhos.
Como estaremos tratando de pessoas já adultas (na maioria dos casos), podemos ativar uma parte adulta para cuidar dele próprio, com amor e carinho passar a fazer o que sente que é bom para si mesmo. E também a aprender a perdoar as ofensas dos outros, bem como aprender que guardar raiva é pouco prático! (Ensinamentos da Dra. Teresa Robles).

5. Trabalho psicoterápico
Na psicoterapia precisamos lidar com as emoções presas, com as feridas feitas pela vida, com os pensamentos negativos retroalimentadores. Matando a vida que mata o sujeito, lhe propondo viver como deseja viver, adequado de situações reais da vida.
Reconhecendo as emoções de raiva, tristeza, impotência e frustração acumuladas em situações traumáticas que a vida lhe proporcionou.
Ao mesmo tempo, dando o carinho, o amor e o suporte de aceitá-lo esgotado, sem energia.
Num primeiro momento, vamos entrar pelo sintoma – PARE / DESCANSE – nada de exercício físico, caminhada, passeios!!! Imagine, o sujeito nem tem serotonina para pensar, que dirá para se levantar e se divertir?
Vamos ensiná-lo a fazer o que os ursos fazem no inverno, hibernar! Descanso é a nossa primeira dica.
Devemos ouvir o que diz o corpo, descanse. Depois, na medida que vamos trabalhando as emoções profundas de raiva e tristeza, é que a energia que lá estava presa se solta e assim podemos ver que esta pessoa anima-se naturalmente.
Nosso caminho é mudar o estímulo de pressão e esgotamento. Limpeza externa das pressões da vida diária, limpeza interna das pressões de exigência com o que DEVO SER.
Regressão aos pontos traumáticos, onde aparecem as crenças limitantes de não ser amado o suficiente, bom o suficiente. Trabalhar o perdão àqueles que o prejudicaram e o cuidar do novo EU que nasce. Além de ir matando aquela vida que te mata, matando os pensamentos negativos também.
Milton H. Erickson era habilíssimo em entrar pelos sintomas e chegar às soluções. Hábil em descobrir os recursos de cada pessoa e ensiná-los a experenciar através de tarefas, estórias e induções hipnóticas. Como cada ser é único, cada terapia necessita ser única e sob medida. Normalmente, as pessoas já trazem seus próprios símbolos do que representam aquilo que sentem.
Através da hipnose, podemos ajudar as pessoas a se conectarem com a parte sábia de suas mentes que nos fornecem símbolos e metáforas das soluções dos problemas.
A hipnose por si já é terapêutica porque faz a conexão dos dois hemisférios cerebrais e a tranquilização do sistema límbico.
Na depressão há um afluxo sangüíneo exagerado no sistema límbico. Se fazemos hipnose, diminuímos a irrigação exagerada e com isto já estamos tratando da depressão.
Observando a linguagem e valores dos clientes chegamos aos recursos específicos de cada um e podemos trabalhar sob medida mesmo usando as mesmas técnicas de hipnoterapia.
Seja sempre único em sua abordagem com cada um que te procura. Observe o que esta pessoa valoriza. Você já estará mostrando que ela pode ser ouvida, querida e bem cuidada. Devemos dar aquilo que o cliente deseja receber. Nunca a mais! Ele não suporta.
Com os pacientes deprimidos precisamos ir devagar e não cair no duplo vínculo. Precisamos observar o que é necessário matar na vida desta pessoa e ajudá-lo a fazer em seu tempo e sua medida.
Veremos a seguir um pouquinho sobre medicação e depois os exercícios de hipnose que você criativamente poderá utilizar.

6. Remédios
tratamento de depressão.
Sabemos que a medicação ajuda, mas não cura. E também que a associação da medicação com a psicoterapia dão excelentes resultados.
Temos algumas categorias de antidepressivos:

1. Drogas tricíclicas
Foram os primeiros, dominaram o mercado por mais de 20 anos e ainda são usados, só que com menor freqüência. Agem dessensibilizando um receptor no neurônio que absorve os neurotransmissores norepinefrina e dopamina nas células. Isso resulta em níveis mais altos desses dois componentes químicos na sinapse e conseqüente melhora de humor.
Ex.: Imipramina hidroclorida – Tofranil
Amitriptilina – tryptanol, Amytril, Limbitrol
Nortriptilina - Pamelor
O sério problema desta categoria são os efeitos colaterais: interferem no controle da pressão arterial, vertigens, desmaios, arritmias, secura da boca, aumento de peso, constipação, impotência etc.

2. Inibidores da monoaminooxidase (IMAO)
Reduzem a quantidade da enzima MAO na sinapse, com um aumento de neurotransmissores na fenda sináptica.
Ex.: Sulfato de fenelzina – Nardil
Sulfato de tranilcipromina - Parnate
Efeitos colaterais: insônia, impotência, tonturas, aumento de peso.
Mas tem também um efeito tóxico, se interagir com alimentos que contenham tiramina. Ex.: queijo cremoso chedar, enlatados, embutidos como salame, salsicha, vinhos espumantes etc.

3. Inibidores do reabastecimento de serotonina seletiva - SSRI
São medicamentos mais recentes, a partir de 1987, com a descoberta da fluoxetina (prozac/daforin). Estes medicamentos dessensibilizam um receptor no neurônio que normalmente absorveria a serotonina na célula. Conseqüentemente, há maior fornecimento de serotonina na sinapse, que permitem transmitir um sinal mais forte. A serotonina é um dos antidepressivos naturais do cérebro, portanto níveis mais altos de serotonina mudam o humor e reduzem os sintomas depressivos.
Existem várias opções de SSRI no mercado, variando no que produzem como efeito. Mas todos têm inúmeros efeitos colaterais.
A) Fluoxetina – Prozac / Daforin / Fluxene – são mais estimulantes.B) Paroxetina – Cebrilin / Pondera / Aropax – mais sedativa / ótimo para síndrome pânico e fobias.
C) Sertralina – Zoloft / Tolrest – fica entre estimulante e sedativo.
D) Nefazodona – Serzone – útil em casos de agitação, ansiedade e insônia.
E) Trazodona – Desyrel.
F) Venlafaxina – Effexor – para pensamentos ruminativos. Traz mais bem-estar, aumenta o nível das endorfinas no cérebro.

4. Erva de São João
É conhecida desde a antiguidade como antidepressivo. Seu princípio ativo é o hypericum (hyper – superior / eikon = imagem).
A taxa de sua eficácia como antidepressivo é em torno de 60 a 80%, taxa igual a do prozac, só que com menos efeitos colaterais. Leva-se de 3 a 4 semanas para surgirem os efeitos.

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